Resenha | Provence, de Bridget Asher


“Eis uma forma de colocar a questão: a perda é uma história de amor contada de trás para frente... Toda boa história de amor guarda outra história de amor escondida dentro dela.”

A vida de Heidi com o filho tornou-se um jogo para manter viva a memória de Henry, bom pai e marido exemplar. Manter uma vida normal em um mundo em que Henry não existe mais está cada dia mais difícil. Heidi precisa lidar com o fi lho que se tornou um verdadeiro maníaco por limpeza e com a sobrinha Charlotte, uma adolescente problemática.

Uma casa em Provence, na França, que pertence à família de Heidi há gerações, é rica em histórias de amor e surpreendentes coincidências. Heidi e sua irmã mais velha, Elysius, passavam os verões lá quando crianças, junto com a mãe. A casa, as lembranças e os segredos de Provence haviam fi cado para trás, mas agora, com o incêndio que atingiu a propriedade, a casa precisa ser salva por Heidi. Ou será que é Heidi quem precisa ser salva pela casa?

Editora: Novo Conceito | Número de Páginas: 368 | Adicionar: Skoob


Em Provence acompanhamos Heidi em sua busca por forças para recomeçar sua vida após o falecimento de seu amado, Henry.

A narração é em primeira pessoa e sob a perspectiva de Heidi, o enrendo é consistente e dividido em duas partes. Bridget Asher nos cativa com o luto de sua personagem e nos faz entender a intensidade de seus sentimentos por Henry através de alguns flashbacks presentes na primeira parte do romance.

"Eis uma forma de colocar a questão: a perda é uma história de amor contada de trás para frente."


"Ele havia partido. Partido. Eu costumava implorar para que voltasse, pedia a Deus com todas as forças, mas, naquele momento, queria simplesmente poder tocar sua pele com as pontas dos meus dedos. Se eu pedisse apenas por isso, será que eu teria mais chances e ter meu desejo atendido? Será que eu poderia fazer só mais isso?"

Um coração partido e a magia de uma cidade capaz de curar corações partidos.

Heidi está com o coração partido. Perdeu seu marido precocemente há dois anos e desde então tem vivido somente para cuidar de seu filho que após a perda do pai tornou-se um obsessivo-compulsivo.

Mas afinal, para onde irão os corações partidos?

Em Provence, uma pequena cidade na zona rural do Sul da França, há um refúgio perfeito para os corações partidos e talvez, seja lá onde esteja a força para o começo de novas histórias de amor. 


"Todos acham que é um presente divino ter alguém que os ame, mas eles estão errados. O maior presente é poder amar alguém, como ele a amava."

Heidi se tornou uma mulher lamentável após a morte de Henry. Desde a primeira página ela aspira piedade, isso inicialmente incomoda na narração, chega ser um pouco cansativo. Há dois anos ela veem se afogando em seu próprio martírio, sua única motivação para viver é Abbot, seu filho de oito anos.

Com o enredo dividido em duas partes, neste momento inicial Bridget Asher nos apresenta às inseguranças de Heidi através dos seus sentimentos mais profundos. A narrativa se torna cansativa a certo momento por ser um luto extremamente intenso, Henry foi seu primeiro e grande amor, ela não esperava receber a notícia de sua morte nem em seu pior pesadelo. 

"Seja morte ou um divórcio. Todos têm o direito de sentir sua própria dor. É como um presente de despedida. Uma porcaria de presente, mas mesmo assim um presente."

Após receber a notícia que a casa em Provença onde passou muitos verões durante a infância foi incendiada, a pedido de sua mãe Heidi decidi viajar à França com Abbot e Charlotte, sua sobrinha, para acompanhar a reforma.

A casa em Provence há muitas gerações é símbolo de milagres, durante as muitas idas a Provence durante as férias de verão na infância, Heidi e Elysius, sua irmã, conheceram muitas histórias e puderam presenciar um momento mágico nas montanhas de Puyloubier. 

Mas sua chegada à Provence é seguida de uma maré de azar e uma bela tempestade de boas vindas. Heidi, Abbot e Charlotte são assaltados e suas malas são levadas pelos ladrões, o carro alugado que os levariam ao vilarejo quebra no meio do caminho e para completar o quatro desastroso se vêem perdidos. Parados em uma estrada deserta em meio a uma chuva torrencial Heidi não tem alternativa e liga para Véronique uma amiga de sua mãe há muitos anos. Após informar que alguém estaria a caminho, Heidi é surpreendida com a chegada de Julian, filho mais novo de Véronique.

Todos os anos durante as férias Heidi e sua irmã passava uma tarde na piscina com os filhos da vizinha, o Pascal e Julian. Julian, o caçula da família, implicava muito com ela por vezes sendo maldoso, e por isso sempre havia apreciado mais a companhia do irmão mais velho, Pascal. Fora uma surpresa para ela se deparar com Julian naquela situação lamentável. Mas, Heidi logo percebe que Julian cresceu e se tornou um homem extremamente bonito com sua fisionomia francesa e que diferente do garoto da infância é muito educado.


"Queria ir para casa, queria voltar, mas o que era uma casa? Como eu poderia levar Abbot de voltar e começar uma nova vida quando ele chamava aquele lugar na Provence de casa? Nada voltaria a ser igual."

Heidi não poderia ter previsto que sua chegada à Provence desenterraria um passado adúltero que quase arruinou para sempre a sua família e que depois de dois anos se sentiria viva e disposta a começar uma nova história de amor. 

Provence é um romance encantador e extremamente emocionante. Heidi, Abbot e Charlotte chegam ao pequeno vilarejo Puyloubier com uma bagagem emocional pesada e é lindo ver que aos poucos a magia da rotina francesa vai retirando esse peso emocional de seus corações, libertando-os de alguns receios e manias, ensinando-os novas maneiras de viver com amor e amizade e por que não com momentos tristes e felizes? 

"O amor é infinito. A tristeza pode levar ao amor. O amor pode levar à tristeza. A tristeza é uma história de amor contada de trás para a frente, da mesma forma que o amor também é uma história triste contada do fim para o início. Toda boa história de amor tem muitos outros amores escondidos dentro dela."

Bridget Asher nos apresenta em Provence uma história recheada de esperança e promessas. Suspiramos com as descrições de um dos cenários mais belos e românticos do mundo. Provence complementa perfeitamente esse romance com sua gastronomia deliciosa, e suas paisagens medievais, além de nos dá ar a imaginação ás belezas das montanhas e seus campos de lavanda característicos da região Sul da França. Sinceramente não duvido que muitas mulheres assim como Heidi tenham passado por Provence e encontrado aquilo que buscava para seguir em frente mesmo que inconscientemente.


"Ouvi meu nome. Eu me virei e lá estava ele. Sozinho, de pé junto a um muro de pedra. Atrás dele estava a cidade lotada, que se espalhava a distância, o porto imenso e escuro com seus guindastes e navios de carga, e por fim o mar, esparramando-se até o infinito. Fui até ele. O vento bagunçando nossos cabelos e inflando as blusas. Os olhos dele estavam molhados, brilhantes."



Bridget Asher na verdade é um dos pseudônimos de Julianna Baggott, romancista, ensaísta e poeta. Autora de mais de vinte livros, em sua maioria romances, ela também escreve como N.E. Bode. Seu trabalho tem aparecido no The New York Times, Boston Globe e Washington Post. Ela é professora-associada na Escola de Artes Cinematográficas da Universidade da Flórida e também presidente do departamento de Línguas Contemporâneas no Colégio da Santa Cruz em Worcester, Massachusetts. Seus livros já contam com mais de cem edições, que já foram ou ainda serão publicados. Ela vive em Amherst com o marido David Scott e seus quatro filhos.

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